quarta-feira, 18 de maio de 2011

A máquina fotográfica

As máquinas fotográficas actuais são espectaculares...para além de podermos ver como ficou, apagamos e repetimos, sem o cuidado de ver se o rolo já está quase a acabar...quando tiver (o cartão a ficar cheio), descarrega-se e continua-se a premir o botão...
Antigamente era necessário arranjarmos a perspectiva certa, aquela que apanhava tudo o que queríamos, não estava em contra-luz e obedecia a toda uma série de características que permitiam achar que a foto ia ficar bem...
Dou por mim a pensar que o tempo de qualidade que passamos com aqueles de quem gostamos são cada vez mais iguais às fotografias digitais. Rápidos, sem preparação, com a consciência de que "para a próxima há mais". Não vou entrar pela questão de para a próxima poder não haver mais pois é um pensamento fácil e simples que não me interessa estar a explorar. Vou focar-me apenas na fotografia digital e na qualidade das fotografias digitais.
Porque é que uma fotografia digital não tem o mesmo direito a ser degustada e saboreada até à exaustão, como o eram antigamente as fotografias convencionais? Porque é que não perdemos tempo a preparar o enquadramento? Se o fossem, se calhar talvez nos déssemos ao trabalho de as ver mais vezes no computador em vez de estarem "apenas" a ocupar disco rígido...
É que o nosso disco rígido infelizmente não tem uma capacidade assim tão grande de gravar todas as fotos que queremos e as que vão sendo apagadas pelo tempo apenas deixam o sabor a doce ou a amargo...e isto, apenas, caso tenhamos decidido tirar algum tempo para saborear a vida que estava a passar e a ver a que é que sabia, porque caso não o tenhamos feito, serão um conjunto de fotos digitais no disco rígido do computador, que o tempo encarregará de apagar sem deixar sabor...e a isto, não se chama viver. Chama-se existir.

"Entre o viver e o existir encontra-se uma distância infinitamente grande"